Lycalopex gymnocercus (Graxaim-do-campo)

    Sou suspeita para falar, pois tenho um fascínio intenso por esses animais, mas os considero um dos seres mais magníficos de todo o Rio Grande do Sul! 

Casal de Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    Parecem raposas (apenas gênero Vulpes, habitam o hemisfério norte do planeta), mas não são cientificamente chamados assim. Há dois tipos de graxains que compõe a fauna canina gaúcha: o do campo e o do mato (Cerdocyon thous). Apesar dos nomes comuns, ambas as espécies são encontradas nos campos e interiores de mata. É fácil diferenciá-los, pois o L. gymnocercus é maior do que o C. thous, com o focinho mais alongado e de cores mais claras, em tons amarelados e castanho claro.
Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    Estes animais são onívoros, ou seja, alimentam-se de qualquer coisa. A sua dieta favorita são pequenos roedores, aves, alguns répteis e frutos, especialmente o butiá! Habitam tocas cavadas por eles ou roubadas de tatus. Estas tocas são longas e possuem diversa saídas em pontos mais afastados, para facilitar a fuga caso haja algum predador (como pumas e onças-pintadas). São solitários, vivendo apenas em conjunto  durante a época de reprodução, que é de agosto a dezembro. Como cães, a ninhada é variada, podendo ser de 3 a 5 filhotes. O cuidado parental é feito por ambos os pais: a fêmea permanece na toca, com os filhotes, enquanto que o macho sai para procurar alimento. Em torno de seis meses, a prole já está apta a ser independente, havendo maturação sexual por volta de um ano de vida.

Três Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae) em frente à toca
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    São habitantes de regiões de Mata Atlântica e Pampa, estando presentes também no estado de Santa Catarina, no leste da Bolívia e norte da Argentina. Crepusculares, costumam ser visualizados no final da tarde e à noite, mas também saem durante a manhã e a tarde.
    A perda  de habitat devido às ações antrópicas (humanas) nas áreas de pampa e mata atlântica para a criação de lavouras, pecurárias e cidades, reduzem a área de caça e procriação destes animais, que precisam se deslocar muito mais longe de suas tocas para encontrar alimento. A fragmentação das matas, muitas vezes sem um corredor ecológico entre uma e outra, também é um grande problema, pois acaba evitando que os animais de um fragmento misturem-se com animais de outro fragmento, causando uma depressão genética na população (mesmos genes se inter-cruzando entre as gerações, resultando num maior número de deformidades e doenças genéticas).

Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.

    Ainda como um grande problema para este e outros animais, há as rodovias. Me dói o coração quando, ao ir pra a universidade, em Passo Fundo, vejo vários deles mortos, atropelados, destroçados, como se fossem nada. É preciso maior consciência por parte dos motoristas, para evitar que ocorram essas fatalidades na nossa fauna (que também podem causar acidentes graves para o próprio motorista). A pressa para chegar em casa e assistir a um jogo de futebol ou novela não deve ser desculpa para atropelar um animal silvestre e deixá-lo à própria sorte na beira da estrada, agonizando enquanto aguarda a morte.  
    Sejamos conscientes. Às vezes, não há como evitar, mas se acabar por atropelar um animal, qualquer que seja, pare e auxilie. 
    Outro fator impactante é a ação de caçadores ilegais. Há regras para a caça no estado, alguns animais são passíveis de caça e outros não. Muitos caçadores se embrenham nas matas e voltam para casa cheios de animais silvestres (muitos em risco de extinção). Um desses animais, muitas vezes, é o graxaim. E se não for, é algum animal que faz parte de sua dieta alimentar. Alguns donos de galináceos e outras aves também acabam por exterminar estes animais, julgando-os culpados pelo sumiço de suas criações.
    Mas, apesar de tudo isso, por enquanto, esta espécie não é considerada em risco de extinção pela Lista Vermelha da IUCN, pois sua população ainda encontra-se estável.

Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    Os graxains dessas fotos foram encontrados na parte da manhã, em torno das 11:30h, atrás do prédio de Direito da Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Os relatos são de que estes animais sempre estão por lá e já estão (infelizmente) acostumados à presença humana.

  • REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; FREGONEZI, M. N.; ROSSANEIS, B. K. Guia Ilustrado: Mamíferos do Paraná - Brasil. Pelotas: USEB, 2009.

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