Melanerpes candidus (Pica-pau-branco)

    Em todos os anos que moro em Getúlio Vargas, nunca havia presenciado estas aves dentro da cidade. É algo que tem me chamado a atenção, ainda mais porque, todos os dias, um bando de seis ou sete aparece para procurar bichinhos por entre os galhos e lascas do tronco da uva-do-japão de meu vizinho. 
Melanerpes candidus macho adulto (Piciformes, Picidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Inconfundível, é branco com as asas negras. As rêmiges (penas da ponta da asa) são castanhas. Vendo mais de perto, pode-se notar duas riscas escuras que saem das costas e seguem até os olhos, que são azuis e circundados por uma pele amarelada. Os machos se caracterizam por possuir uma mancha amarela na nuca, entre as riscas pretas.
Diferença na nuca de macho (esq.) e fêmea (dir.) de Melanerpes candidus (Piciformes, Picidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Detalhe ocular de Melanerpes candidus (Piciformes, Picidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Como outros pica-paus, possui pés zigodáctilos (primeiro e quarto dedos voltados para trás), para poder segurar-se na superfície do tronco, e as retrízes (penas da cauda) endurecidas para dar suporte ao corpo. O bico é escuro, longo e forte, excelente para perfurar a madeira em busca de pequenos artrópodes para sua alimentação.
Melanerpes candidus macho adulto (Piciformes, Picidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

    Reproduz-se em cavidades criadas por eles mesmos ou por outros animais. O som é um grito alto e característico.

Lycalopex gymnocercus (Graxaim-do-campo)

    Sou suspeita para falar, pois tenho um fascínio intenso por esses animais, mas os considero um dos seres mais magníficos de todo o Rio Grande do Sul! 

Casal de Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    Parecem raposas (apenas gênero Vulpes, habitam o hemisfério norte do planeta), mas não são cientificamente chamados assim. Há dois tipos de graxains que compõe a fauna canina gaúcha: o do campo e o do mato (Cerdocyon thous). Apesar dos nomes comuns, ambas as espécies são encontradas nos campos e interiores de mata. É fácil diferenciá-los, pois o L. gymnocercus é maior do que o C. thous, com o focinho mais alongado e de cores mais claras, em tons amarelados e castanho claro.
Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    Estes animais são onívoros, ou seja, alimentam-se de qualquer coisa. A sua dieta favorita são pequenos roedores, aves, alguns répteis e frutos, especialmente o butiá! Habitam tocas cavadas por eles ou roubadas de tatus. Estas tocas são longas e possuem diversa saídas em pontos mais afastados, para facilitar a fuga caso haja algum predador (como pumas e onças-pintadas). São solitários, vivendo apenas em conjunto  durante a época de reprodução, que é de agosto a dezembro. Como cães, a ninhada é variada, podendo ser de 3 a 5 filhotes. O cuidado parental é feito por ambos os pais: a fêmea permanece na toca, com os filhotes, enquanto que o macho sai para procurar alimento. Em torno de seis meses, a prole já está apta a ser independente, havendo maturação sexual por volta de um ano de vida.

Três Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae) em frente à toca
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    São habitantes de regiões de Mata Atlântica e Pampa, estando presentes também no estado de Santa Catarina, no leste da Bolívia e norte da Argentina. Crepusculares, costumam ser visualizados no final da tarde e à noite, mas também saem durante a manhã e a tarde.
    A perda  de habitat devido às ações antrópicas (humanas) nas áreas de pampa e mata atlântica para a criação de lavouras, pecurárias e cidades, reduzem a área de caça e procriação destes animais, que precisam se deslocar muito mais longe de suas tocas para encontrar alimento. A fragmentação das matas, muitas vezes sem um corredor ecológico entre uma e outra, também é um grande problema, pois acaba evitando que os animais de um fragmento misturem-se com animais de outro fragmento, causando uma depressão genética na população (mesmos genes se inter-cruzando entre as gerações, resultando num maior número de deformidades e doenças genéticas).

Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.

    Ainda como um grande problema para este e outros animais, há as rodovias. Me dói o coração quando, ao ir pra a universidade, em Passo Fundo, vejo vários deles mortos, atropelados, destroçados, como se fossem nada. É preciso maior consciência por parte dos motoristas, para evitar que ocorram essas fatalidades na nossa fauna (que também podem causar acidentes graves para o próprio motorista). A pressa para chegar em casa e assistir a um jogo de futebol ou novela não deve ser desculpa para atropelar um animal silvestre e deixá-lo à própria sorte na beira da estrada, agonizando enquanto aguarda a morte.  
    Sejamos conscientes. Às vezes, não há como evitar, mas se acabar por atropelar um animal, qualquer que seja, pare e auxilie. 
    Outro fator impactante é a ação de caçadores ilegais. Há regras para a caça no estado, alguns animais são passíveis de caça e outros não. Muitos caçadores se embrenham nas matas e voltam para casa cheios de animais silvestres (muitos em risco de extinção). Um desses animais, muitas vezes, é o graxaim. E se não for, é algum animal que faz parte de sua dieta alimentar. Alguns donos de galináceos e outras aves também acabam por exterminar estes animais, julgando-os culpados pelo sumiço de suas criações.
    Mas, apesar de tudo isso, por enquanto, esta espécie não é considerada em risco de extinção pela Lista Vermelha da IUCN, pois sua população ainda encontra-se estável.

Lycalopex gymnocercus (Carnivora, Canidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    Os graxains dessas fotos foram encontrados na parte da manhã, em torno das 11:30h, atrás do prédio de Direito da Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Os relatos são de que estes animais sempre estão por lá e já estão (infelizmente) acostumados à presença humana.

  • REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; FREGONEZI, M. N.; ROSSANEIS, B. K. Guia Ilustrado: Mamíferos do Paraná - Brasil. Pelotas: USEB, 2009.

Perreyia sp. (Mata-porcos)

    Apesar do aspecto, essas larvas NÃO são lagartas de mariposas ou borboletas. 
    Por mais estranho que possa parecer, elas são larvas de um tipo de "vespa"! 
    Nesta época do ano (final de outono, início de inverno), especialmente após as chuvas, elas eclodem e começam a emergir aos montinhos na grama, iniciando uma jornada pela sobrevivência até que empupem em novembro e, em março, tornem-se vespas adultas. Estranhamente, o adulto destes animais foi pouco observado, não havendo dados precisos sobre ele na literatura. 
Grupo de Perreyia sp. (Hymenoptera, Pergidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
    Até o que se sabe, há duas espécies conhecidas no Rio Grande do Sul: Perreyia lepida e Perreyia flavipes. Ambas são negras com cerdas pontuadas pelo corpo rugoso. Além da aparência, elas também possuem um comportamento bem peculiar: se deslocam unidas, uma em cima da outra, dando o aspecto de que são uma larva gigante e perigosa aos seus predadores.


     Essas larvas carregam o nome comum de "mata-porcos" porque, ao serem ingeridas, liberam toxinas que causam graves problemas ao organismo, quase sempre levando a morte. Segundo Raymundo (2008), em suas pesquisas com toxicidade de larvas do gênero, animais que receberam doses do veneno apresentaram lesões macro e microscópicas, bem como alterações bioquímicas que levaram à insuficiência hepática aguda (problemas graves no fígado).
Grupo de Perreyia sp. (Hymenoptera, Pergidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
  • RAYMUNDO, Djeison Lutier. Intoxicação espontânea por larvas de Perreyia flavipes (Pergidae) em ovinos e bovinos e intoxicação experimental em ovinos e coelhos. Porto Alegre: 2008. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/12431/000628568.pdf?sequence=1>. Acesso em: 09 de julho, 2014.

Hypsiboas faber (Sapo-ferreiro/martelo)

Hypsiboas faber (Anura, Hylidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Apesar do nome, não é um sapo, e, sim, uma perereca! Elas se diferenciam por possuírem o corpo liso, sem verrugas, e terem discos adesivos nas pontas dos dedos, para que consigam escalar diversas superfícies. Raramente possuem algum veneno. Esta perereca é uma das maiores que existem, chegando a 10cm de comprimento. É de cor clara, variando entre bege, cinza e marrom-claro, com uma risca escura da ponta do focinho até o final das costas. Como todos os outros anfíbios anuros, possui pernas fortes para realizar saltos a longas distâncias.
Hypsiboas faber (Anura, Hylidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    O macho é o responsável pela vocalização que dá nome a esta espécie: é similar a um martelo batendo em uma madeira. Cantam apenas na época de reprodução.

Pepsis sp. (Vespa-caçadora-de-aranhas)

    Quem sabe alguém já tenha presenciado este acontecimento no seu quintal: uma vespa grande perseguindo uma aranha. Trata-se de uma vespa-caçadora-de-aranhas, um tipo de vespa solitária que não forma colmeia. Ela vive sozinha em tocas debaixo do chão. Existem várias espécies no mundo, todas pertencentes à família Pompilidae: esta das fotos ocorre no Rio Grande do Sul e é do gênero Pepsis, mas não consegui chegar ao nível específico.Todas são escuras, com as asas avermelhadas e antenas de coloração chamativa, geralmente laranja, que retorce-se em forma de espiral.
    Com o ferrão na ponta do abdome (que, na verdade, é o ovipositor da fêmea), a vespa transfere seu veneno à aranha, que fica paralizada. Mas ao contrário do que podem pensar, esta vespa não se alimenta da aranha capturada. Como todas as vespas e abelhas, ela é uma polinizadora, alimentando-se do néctar das flores. Na verdade, a aranha irá servir como receptáculo para o ovo da vespa.
Pepsis sp. (Hymenoptera, Pompilidae) capturando uma Lycosa sp. (Araneae, Lycosidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

    Depois de paralisada, a aranha é arrastada até a toca da vespa e trancada lá dentro sem poder sair. Irá permanecer dentro da toca até o verão seguinte, viva, sem se alimentar. Assim que captura a aranha, a vespa irá colocar um único ovo dentro do aracnídeo. Este ovo, durante as próximas estações do ano, irá se desenvolver numa larva que se alimentará dos órgãos não vitais da aranha, para evitar que esta morra. Se a aranha morrer, a larva morre com ela. 
    Ao final de todas as cinco etapas da vida da larva (ínstares larvais), a aranha finalmente morrerá. A larva, então, irá formar uma pupa e tecerá um casulo de seda ao seu redor, onde realizará a última metamorfose antes de se tornar uma vespa adulta e continuar o ciclo.

Pepsis sp. (Hymenoptera, Pompilidae) arrastando uma Lycosa sp. (Araneae, Lycosidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Essas vespas são importantíssimas para regular a quantidade de aranhas em um local, auxiliando no equilíbrio ecológico da população. Aconselha-se evitar a aproximação e qualquer interferência durante o ataque à aranha, pois, ao sentir-se ameaçada, a vespa poderá atacar. A dor de sua picada é descrita como semelhante a um choque elétrico, recebendo valor 4 em uma escala de 4 pontos na Escala de Dor por Picada de Hymenoptera de Justin Schmidt.

Chromacris speciosa (Gafanhoto-soldado)

Adulto de gafanhoto-soldado
Data: 14/01/2013, Local: Getúlio Vargas, RS.

Adulto de gafanhoto-soldado
Data: 14/01/2013, Local: Getúlio Vargas, RS.

    O adulto faz jus ao nome por ter coloração camuflada, alguns podendo ser mais amarelados, variando conforme o indivíduo. Os machos são menores do que as fêmeas, e ambos compõem grandes enxames durante a época reprodutiva.

Ninfas de gafanhoto-soldado agrupadas em gramínea
Data: 19/10/2015, Local: Mato Castelhano, RS
      As ninfas (forma jovem) são negras com riscas vermelhas e agrupam-se em folhas de plantas herbáceas para melhor defesa. Como tática, também podem mover-se juntas, dando a impressão de serem um animal único maior. Conforme crescem, as ninfas se separam e tornam-se independentes.

Ninfa mais velha e já independente de ganhafoto-soldado
Data: 04/02/2016, Local: Clevelândia, PR.

Colaptes melanochloros (Pica-pau-verde-barrado)

    Outra espécie de pica-pau, não tão comum dentro das cidades quanto o Colaptes campestris (Pica-pau-do-campo), mas ainda bem presente. É completamente diferente da espécie anterior, mas iguala-se no quesito de ser zigodáctilo (primeiro e quarto dedos voltados para trás), ter o topo da cabeça negra e a linha escura na lateral do bico, que, como no pica-pau-do-campo, é avermelhada em machos. Como distinção, possui o final da cabeça bem vermelho, corpo amarelo-esverdeado com estriado marrom.
Colaptes melanochloros fêmea (Piciformes, Picidae)
Ipiranga do Sul, Rio Grande do Sul.
    A cauda, como nas outras espécies de pica-pau, possui as penas endurecidas para auxiliar na escalada dos troncos das árvores (vide foto abaixo). Também como os outros, nidificam em ocos na árvore, criados por eles ou já existentes.
Colaptes melanochloros fêmea (Piciformes, Picidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

Colaptes campestris (Pica-pau-do-campo)

    É o pica-pau mais comum que temos na região! Tem um som alto e forte, bem característico, similar a uma risada. Morfologicamente, é inconfundível: grande, amarelo forte no pescoço e cabeça, asas marrons com riscas brancas e corpo branco com riscas marrons. Na cabeça, possui uma grande mancha negra, bem como uma risca mais escura saindo de ambos os lados do bico. Em machos, esta risca escura possui tons de vermelho.
    A subespécie do sul do país (Colaptes campestris campestroides) possui o pescoço branco, enquanto que a subespécie mais ao norte (Colaptes campestris campestris) possui o pescoço negro. Em Santa Catarina e Paraná há a ocorrência de ambas!
Colaptes campestris campestroides fêmea (Piciformes, Picidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Colaptes campestris campestroides macho (Piciformes, Picidae)
Ipiranga do Sul, Rio Grande do Sul
Casal misto de C. c. campestroides - macho, à esq. - e C. c. campestris -  fêmea, à dir. - (Piciformes, Picidae)
Palmas, Paraná.
     Como todos os pica-paus, suas patas são zigodáctilas, ou seja, o primeiro e o quarto dedo são voltados para trás, enquanto que o segundo e o terceiro ficam na frente. Desta forma, essas aves conseguem escalar os diferentes tipos de superfície para buscar alimento. Também para auxiliar na escalada, suas retrízes (penas da cauda) são endurecidas, servindo como um apoio para o corpo. Seus bicos são fortes e compridos para que consigam perfurar a casca das árvores e pegar os artrópodes (insetos e aranhas) que estão lá dentro com sua língua serrilhada.
Colaptes campestris campestroides fêmea (Piciformes, Picidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

Tadarida brasiliensis (Morcego)

    Chegou a hora de desmistificar os morcegos! 
    Não, eles não são cegos.
    Não são ratos ou qualquer tipo de roedor. São, simplesmente, morcegos!
    Como qualquer outro animal silvestre, ele pode, sim, transmitir doenças.
   Sim, algumas espécies alimentam-se de sangue (hematófagos), mas apenas os morcegos-vampiros da família Phyllostomidae (temos apenas três espécies nativas das Américas), os quais alimentam-se através de mordidas ou feridas em animais grandes como capivaras, vacas e cavalos. Na verdade, a grande maioria dos morcegos alimenta-se de insetos, frutos e, acredite se quiser, néctar!

Tadarida brasiliensis (Chiroptera, Molossidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    O Tadarida brasiliensis é a espécie mais comum do país. Insetívoro, não representa qualquer mal para o ser humano, a não ser em casos de doenças que podem ser transmitidas por suas fezes (guano). Ele é pequeno, cabe na palma da mão. Sua característica principal para identificação é a cauda com membrana grudada nas patinhas (característica principal da família Molossidae).
Cauda de Tadarida brasiliensis (Chiroptera, Molossidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Como outros morcegos, a asa é membranosa e possui cinco dedos, sendo que um deles, o polegar, é pequeno e utilizado para auxiliar na locomoção dentro de cavernas, agarrando as pedras, ou pelo chão, para dar impulso. Em determinada época do ano, mais precisamente no inverno, juntam-se e voam em grandes migrações para regiões mais quentes, retornando no verão seguinte.
Detalhe da asa de Tadarida brasiliensis (Chiroptera, Molossidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

    As patinhas traseiras também possuem cinco dedos e unhas fortes, feitas para agarrar nas pedras e em galhos. Como outros morcegos, é uma espécie que dorme dependurada, de cabeça para baixo, e em grandes grupos.

Detalhe da pata de Tadarida brasiliensis (Chiroptera, Molossidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul
    As orelhas são grandes, pois estes animais utilizam-se da ecolocalização enquanto voam. Como dito anteriormente, eles não são cegos, mas necessitam emitir um som em ondas que, ao tocar no alimento (por exemplo, uma mariposa em pleno voo), retorna quase no mesmo instante e é captada pelas orelhas. Desde modo, o morcego sabe exatamente onde está a sua presa e pode se alimentar.
Tadarida brasiliensis (Chiroptera, Molossidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Encontrei esse pequenino paradinho do lado de fora da minha casa no começo do ano de 2013. Era um macho e estava muito fraquinho, mal se movia. Levei ao Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo onde ficou em tratamento por uma semana feito pelo Grupo de Estudos de Animais Silvestres (GEAS), mas acabou vindo a óbito. A veterinária Michelli Ataide disse suspeitar que ele estivesse contaminado por produtos químicos utilizados para matar insetos ou espantar os morcegos de dentro das casas.
    Isso é, realmente, muito triste e decepcionante. Como sempre, os humanos, visando o próprio conforto, se enchem de repelentes, colocam naftalinas dentro de casa, e se drogam com os agrotóxicos presentes nos alimentos. E quem mais sofre com tudo isso é a fauna e a flora, que nada tem a ver com nossos caprichos, mas que pagam o preço no final.
Tadarida brasiliensis (Chiroptera, Molossidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

Salvator merianae (Lagarto teiú)

    O lagarto teiú é um visitante constante de casas onde há galinhas e outras aves. Grande e forte, pode atingir cerca de 1,5m de comprimento cabeça-cauda, além de possuir dentes finos e pontiagudos, que tornam a mordida ainda mais potente. Alimenta-se de ovos, pequenos mamíferos, aves e até mesmo outros répteis.
Salvator merianae adulto (Squamata, Teiidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Salvator merianae jovem adulto (Squamata, Teiidae)
Mato Castelhano, Rio Grande do Sul.
Salvator merianae (Squamata, Teiidae) alimentando-se de um Rupornis magnirostris (Accipitriformes, Accipitridae)
Ipiranga do Sul, Rio Grande do Sul.
     Apesar da aparência, só se torna agressivo quando ameaçado e não tiver para onde fugir. Do contrário, simplesmente sairá correndo em disparada para longe do perigo. Quando em posição de defesa, utiliza-se das patas para erguer a barriga do chão e inicia um balanço corporal junto de um som gutural feito na garganta, procurando espantar o agressor. Poderá tentar investidas de mordidas, mas, na primeira oportunidade, fugirá correndo.
    Como outra tática de defesa, comum a todos os lagartos, há a autotomia da cauda, ou seja, por vontade própria, ela se parte em um ponto específico graças a um músculo especializado, rompendo todos os ligamentos entre ossos e nervos. O pedaço que fica para trás acumula uma carga de energia suficiente para que fique se contorcendo no chão, distraindo o predador enquanto o lagarto foge. Apesar do sangramento, esta técnica vale a pena. Alguns meses depois, um novo pedaço de cauda é formado, mais fino e deformando, sem ossos, os quais são substituídos por tecido cartilaginoso que dará a sustentação do novo membro. Esta cartilagem não poderá mais ser quebrada: ou seja, quando ele necessitar utilizar desta tática novamente, deverá parti-la em outra região óssea.
Salvator merianae jovem em posição de defesa (Squamata, Teiidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Os filhotes são magníficos, de um colorido muito belo. Entre poá e listras, as cores branca, preta, marrom, amarelo e verde se misturam, fornecendo uma boa camuflagem para o filhote se esconder de possíveis predadores (aves rapinantes e serpentes). Devido a estas características, muitas pessoas decidem tentar criar (às vezes, ilegalmente) este lagarto como animal de estimação, muitas vezes sem saber que trata-se de um filhote que atingirá grandes proporções corporais. Assim, quando o mesmo cresce, acabam por largá-lo de volta a natureza. Dois erros acontecem aqui: soltar num ambiente hostil um animal cativo, que já perdeu todo o instinto e não sabe se defender ou caçar; e soltá-lo em um local onde não é seu nicho ecológico, de modo que pode acontecer um desequilíbrio na área (muito predador, pouca caça, todos passam fome). 
    Sempre penso que se você ama um animal, não importa a espécie, deixe-o livre. Ele será muito mais feliz em seu ambiente natural do que dentro de uma caixa de vidro ou gaiola, sem poder sair, só para garantir a "felicidade" de um humano.
    O filhote das fotos havia adentrado uma loja e eu o resgatei. Após os registros fotográficos, voltei ao local e soltei-o em uma mata próxima, de onde, muito provavelmente, ele havia vindo, para que não se distanciasse muito do seu nicho ecológico.

Salvator merianae filhote (Squamata, Teiidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Salvator merianae filhote (Squamata, Teiidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

Naupactus dissimilis

Naupactus dissimilis jovem (Coleoptera, Curculionidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Naupactus dissimilis adulto (Coleoptera, Curculionidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Sempre que via esse inseto, uma dúvida surgia a minha cabeça: "Por que, muitas vezes, ele está sem ambas as mandíbulas ou apenas com uma delas?" Depois de muito perguntar, me informaram que, quando jovem, a dieta alimentar desta espécie difere de quando adulto (não sei qual é a alimentação de ambos os estágios de vida). Logo, ao envelhecer, as mandíbulas já não são mais necessárias, e elas são perdidas.

Rutela lineola

Rutela lineola (Coleoptera, Scarabaeidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Rutela lineola visão ventral (Coleoptera, Scarabaeidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Rutela lineola visão dorsal (Coleoptera, Scarabaeidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.

     Talvez o besouro mais bonito que já tive o prazer de encontrar. Ventralmente, é amarelo com desenhos pretos que lembram o estilo dos povos africano. Esses desenhos podem mudar de acordo com o indivíduo, assim como as manchas amareladas no élitro (primeiro par de asas) que podem ou não existir. Mas como característica comum, pode-se destacar o ponto de exclamação amarelo no tórax e cabeça, assim como os círculos amarelos na lateral.

Harmonia axyridis (Joaninha vermelha)

    Esta espécie de joaninha talvez seja a mais conhecida e divulgada. Caracteriza-se por ser de cor avermelhada com pintinhas pretas, mas isto varia de acordo com o indivíduo: há algumas que não possuem pintas, outras que são mais alaranjadas, e ainda outras que são totalmente o contrário (negras com pintas vermelhas). Mas a maior característica para identificar é o tórax branco com um X em preto.
    Apesar de conhecida, esta espécie é exótica no país, sendo nativa da Ásia. Por ser predadora de pulgões, foi trazida para o Brasil e outros países para que realizassem o controle dos mesmos. Porém, como todas as outras introduções de animais exóticos (vide pardal, rã-touro e javali), a população desta joaninha saiu do controle e, hoje em dia, tomou conta do local, competindo com espécies nativas e ameaçando os pulgões.
Casal de Harmonia axyridis em cópula (Coleoptera, Coccinellidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Os ovos são amarelos e alongados. A postura é feita um ovo de cada vez, em fileiras. A larva é completamente diferente da forma adulta, tanto que, muitas vezes, é confundida como sendo um outro inseto. É azul-metálico com detalhes em laranja no abdome. Não possui toxinas.
Postura de Harmonia axyridis (Coleoptera, Coccinellidae)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
Larva de Harmonia axyridis (Coleoptera, Coccinellidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Após completar a fase larval, a joaninha, como outros besouros, cria uma pupa, onde irá se desenvolver em um adulto. Essa pupa fixa-se em um local e permanece lá até completar a metamorfose, alguns dias depois. Já possui a aparência do adulto (laranja e com pintas), mas ainda é enrugada e, na base, há caracteres morfológicos da larva (cerdas azuladas e laranjadas).
Pupa de Harmonia axyridis (Coleoptera, Coccinellidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
Pupa de Harmonia axyridis (Coleoptera, Coccinellidae)
Ipiranga do Sul, Rio Grande do Sul.

Chydarteres striatus

Chydarteres striatus (Coleoptera, Cerambycidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Como os outros cerambicídeos, possui antenas muito longas. O corpo é laranja, com pontas negras no torax. O élitro (primeiro par de asas) é negro com riscas brancas. Nesta foto, há um Compsocerus violaceus (besouro guitarrista), outro cerambicídeo, presente, de forma que pode-se comparar a diferença de tamanho entre ambas as espécies.

Compsocerus violaceus (Besouro viola/guitarrista)

Compsocerus violaceus (Coleoptera, Cerambycidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul.
    Talvez um dos cerambicídeos mais bonitos. Possui longas antenas com tufos negros praticamente na ponta final. O corpo é totalmente vermelho, contrastando com o élitro (primeiro par de asas) azul metálico.

Megacyllene acuta

Megacyllene acuta (Coleoptera, Cerambycidae)
Getúlio Vargas, Rio Grande do Sul
    Cerambicídeo pequeno, mas muito bonito. Fácil de identificar pelo padrão amarelo riscando o corpo negro. As patas são mais claras e as antenas, longas.